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Mulheres buscam seus espaços na área de Segurança Cibernética Industrial

Com representatividade ainda pequena em números absolutos, elas avançam num mercado predominantemente masculino.

As estatísticas apontam que ainda há uma diferença muito grande na quantidade de postos de trabalho ocupados por homens e mulheres no ambiente de tecnologia. De acordo com levantamento feito pela consultoria KPMG, em parceria com Harvey Nash, elas ocupam 16% dos cargos seniores de tecnologia na América Latina, superando o Reino Unido, que tem apenas 4%. A média global atualmente é de 11%.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia (Brasscom), a média de mulheres no mercado brasileiro de tecnologia é de 20%, ou seja, quatro pontos percentuais acima da média latino-americana. Mas, ainda é pouco, considerando um país cujo contingente é de 4,8 milhões a mais de mulheres do que de homens (IBGE – 2021).

Cabe lembrar, contudo, que ao longo da história, mesmo estando à margem, muitas mulheres tiveram papéis fundamentais no desenvolvimento tecnológico. Em 1843, Ada Lovelace criou o primeiro programa de computador do mundo e foi responsável por classificar o algoritmo processado pela máquina. Outro nome emblemático é o da matemática e cientista da computação, Grace Hopper. Ela foi a criadora das primeiras linguagens que permitiram a computadores interpretar comandos em inglês em vez de números e símbolos. Com isso, ajudou a popularizar a programação (Cobol) e abriu caminho para os avanços da informática como a conhecemos. E se hoje temos smartphones conectados ao Wi-Fi, muito se deve a Hedy Lamarr, inventora austríaca, que junto com o compositor e inventor George Antheil, criou um aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas, durante a Segunda Guerra.

Ou seja, não é um fenômeno recente o interesse e a performance das mulheres nas áreas tecnológicas. Mas, é um caminho árduo que vem sendo aberto como se fosse por um facão numa mata densa. Especificamente no recorte de segurança cibernética não há dados oficiais sobre a participação feminina, mas aos poucos elas vão se fortalecendo e ganhando espaço.

É o caso da Lorena Nunes (foto), engenheira sênior de automação industrial, responsável pela gestão do programa de Cibersegurança Industrial global da Braskem. Casada e mãe da Lívia de 3 anos, Lorena conta que, há 15 anos, quando começou na área, a cibersegurança industrial não era um assunto discutido. “Ao longo da minha carreira, passei por diversos projetos de engenharia na área de automação industrial e, em 2013, me mudei para os Estados Unidos onde experienciei a segurança de processos. Trabalhei como gerente de projetos de segurança de processo para implantação e manutenção de projetos de segurança de alívio de pressão na indústria de óleo e gás. Isso possibilitou entender os riscos envolvidos num incidente industrial causado por falhas em segurança”, explica Lorena.

Desde 2018 na Braskem, quando passou a gerenciar as operações das redes industriais de interface da automação com a rede corporativa da companhia, a engenheira conta que em 2021 assumiu a liderança técnica do programa global de cibersegurança industrial e recentemente foi certificada com OT Cybersecurity Expert, emitido pela International Society of Automation (ISA). As conquistas são ainda mais relevantes ao olhar o pano de fundo para uma mulher galgar posições numa carreira em um nicho tão específico e de predominância masculina.

Lorena revela que, sobretudo, depois da maternidade, entendeu o desequilíbrio grande entre a linha de partida para o sucesso de uma mulher e de um homem no mercado de trabalho nessa área. “É preciso estar frequentemente atualizada e responder com agilidade às frequentes mudanças, riscos e ameaças que são vividas diariamente. A carga mental advinda das atividades de fora do trabalho (gerenciamento de todas as decisões relativas à casa, filhos etc.) recai, quase que em sua totalidade, sobre as mulheres. É um trabalho permanente, exaustivo e, muitas vezes, invisível, que, via de regra, nos atrasa “na largada”.  Além disso, mulheres não são tradicionalmente vistas como parte integrante do mundo da tecnologia. Se peço para o time visualizar potenciais hackers, que estão coordenando uma ação de ataque, provavelmente, será descrito o perfil de um homem. Vale o mesmo para imaginar quem cria as barreiras de defesa contra o cibercriminosos. Por isso, sei o quão grande é minha conquista, por ser respeitada e ocupar essa posição dentro da segurança cibernética. Essa representatividade é também uma grande responsabilidade”, relata Lorena.

Para conciliar carreira e família, na visão da especialista, é preciso identificar quais são as prioridades do momento para saber seguir o caminho em que se alinham o propósito profissional e o equilíbrio pessoal. É importante, também, contar com o apoio de uma rede pessoal e profissional para a qual possa delegar tarefas e, assim, dedicar tempo suficiente para construir uma carreira robusta e saudável.

“Sozinha, eu não teria conseguido atingir esse objetivo e nem maternar. Como diz o provérbio africano, que se popularizou recentemente, ‘é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança’ e eu adicionaria ‘e para construir uma carreira de sucesso em tecnologia também’. Por isso, me apoio e me inspiro em outras mulheres que seguiram esse caminho antes de mim e mostram que é possível”, conclui Lorena.

Outro exemplo de destaque na área de Segurança Cibernética é o da Juliane Ramos de Oliveira Rosa (foto), Supervisora de TI na Âmbar Energia, que começou na área de informática em meados de 2009.  Casada e mãe da Isabela e do Gustavo, como muitas mulheres, Juliane iniciou a vida profissional pela porta do setor administrativo. Coincidentemente foi numa escola de informática. Das conversas que mantinha com os professores da escola, naquela época, acabou se “encantando” (como ela diz) por segurança. Esse foi o ponto de partida que a levou até o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso onde cursou Rede de computadores e se especializou em Computação Forense com especialização em Perícia Digital (IPOG). “A área tem poucas mulheres e é bem desafiadora. Logo no começo eu compreendi que tinha que já estar trabalhando na com isso, enquanto estivesse fazendo a formação acadêmica para, efetivamente, entender os detalhes práticos e me inserir nesse universo”, lembra Juliane.

Ela começou a carreira como estagiária na Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso, onde logo depois foi efetivada. Em 2013, aceitou um novo desafio e começou a fazer parte do quadro de colaboradores da Pantanal Energia para ocupar uma posição efetiva, que antes era de uma pessoa terceirizada. Segundo Juliane, foi um período de grande aprendizado em que ela fazia, literalmente, tudo o que envolvesse tecnologia. “Comecei a tomar conta de toda a infraestrutura e dos usuários quando o ativo migrou para Âmbar Energia e foi separado”, recorda.

Neste ano, Juliane completa 10 anos de empresa. Nesse período ultrapassou vários desafios e o mais recente foi assumir a gestão da cibersegurança. “Quando eu entrei não tinha nenhuma mulher. Me sentia sempre mais cobrada e exigida do que os outros. Hoje temos várias meninas em outras áreas e noto que já é bem diferente do que foi no meu início. O preconceito em relação às mulheres na área de tecnologia não é algo que não me abale. Fiquei bem calejada e sei me posicionar”, detalha Juliane.

A TI Safe, que é líder em soluções de segurança cibernética para redes de automação, entende a importância de fomentar a participação feminina nos seus quadros técnicos. Nádia Araújo (foto), que atualmente é Analista de Segurança, antes de ingressar na TI Safe passou por diversas áreas, inclusive trabalhou com crianças. A sua primeira formação é de técnica em administração. Nádia conta que se apaixonou por tecnologia quando quis entender como eram feitas as estruturas dos sites. “Surgiu um curso de HTML na Faetec e resolvi me inscrever. A partir daí fiz o ENEM, e iniciei o Curso de Ciência da Computação em 2016. Passei por alguns estágios e em outubro de 2022 ingressei na TI Safe”, lembra.

Para Nádia, os desafios de atuar na área já foram bem maiores do que são hoje. “Chegou ao ponto de não haver vagas de estágio na área. Ver uma mulher na TI não era comum. Porém, a nossa participação vem, paulatinamente, crescendo e hoje até ocupamos cargos de liderança”, ressalta Nádia.

Também a estagiária Marília Gabriela(foto), que chegou na TI Safe em 2022, enxerga que a associação entre tecnologia e masculinidade distancia as meninas da área de TI. “Sofremos preconceito de amigos, colegas e da sociedade ao fazer escolhas atreladas ao universo masculino. Apesar do crescimento, as mulheres na tecnologia ainda são minoria. No meu caso, vejo como uma grande oportunidade de aprendizado e crescimento o estágio na TI Safe”, comenta e completa: “É uma área de atuação ainda predominantemente masculina e com pouco incentivo à qualificação feminina. Acredito que não deveria existir desigualdade, tendo em vista que nós mulheres temos a mesma capacidade para nos destacarmos e nos sobressairmos na área de atuação desejada”, conclui Marília.

A história comprova o que estagiária sabe empiricamente.

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